SER BRINCANTE
À Nina Souza-Lima, grande artista plástica e conterrânea,
por ter-me inspirado, com suas belas telas, este poema.
A ela, minha admiração!
Brincar é adormecer o tempo,
é partilhar risadas,
é ser capaz de tudo:
vencer e não perder amigos,
perder sem se sentir vencido.
Ser estátua, enquanto adultos correm.
Pular corda sem medo de tropeçar no sal,
na pimenta, no querosene e no bota fogo.
Encaixar boninas e se coroar princesa.
Brincar é viver o faz de conta
sem brigar com o espelho.
É construir castelo de areia
e sentir-se em um palácio.
Arrancar o tampo do dedo
e não arrancar o entusiasmo.
Passar o anel e não, a esperança.
Fazer o que seu mestre mandar
sem perder-se a si mesmo.
Brincar é coisa muito séria!
É rodar na ciranda
de mãos dadas com as diferenças,
onde todos têm vez e voz,
ninguém é mais importante.
É flutuar na infância em disparada,
ser rico com bolinha de gude azulada,
ferir joelhos e braços pra pegar goiaba,
caçar passarinho pra se sentir com asas.
Empinar sonhos e papagaios,
pular maré e chegar ao céu.
Chapinhar no córrego, na enxurrada,
leve, livre e ágil – vento ao léu.
O ser brincante, inventivo e poliglota,
domina a língua do brincar e do “P” ,
limpa a alma com terra e cambalhota,
vive, sem problema, o ser e o não ser.
Num andor, essas memórias
de fazer arte pela infância à fora,
respondendo enigmas,
descobrindo o mundo,
reinventando a vida.
Brincadeiras de criança –
luzes na minha clareira.
Fotografias do tempo
me transportam em suas asas,
cruzamos os grandes sertões
para as águas das veredas.
Celina Rabello – Belo Horizonte, 15 de maio/2018