Nina de Souza-Lima e a Reinvenção do Ponto

A pintura de Nina de Souza-Lima baseia-se em princípios simples, para atingir resultados mágicos. O que logo chama a atenção do espectador é sua pincelada característica, que muitos — por desconhecimento ou superficialidade — tentam aproximar do Divisionismo, ou Pontilhismo, como dizem. Mas Seurat e Signac foram os primeiros a se opor ao uso da palavra pontilhismo para definir o que faziam. Porque a característica principal da pintura de Seurat e Signac consistia em seu emprego da mistura ótica, ou divisão dos tons, para obter uma cor inexistente, ou existente apenas no olho do espectador. Essa divisão dos tons termina por produzir cores pardacentas, quando é seguida com rigor, já que a justaposição de um azul e de um amarelo não resulta num verde. Além disso, Seurat e Signac utilizavam uma variedade de marcas sobre a superfície da tela, não apenas pontos.

A pincelada de Nina de Souza-Lima guarda uma relação longínqua com a técnica dos mosaicos.

O mosaico, quando utiliza pequenos pedaços coloridos de vidro ou cerâmica ou pedra, é considerado um tipo de pintura. Daí que tantos pintores, por sua vez, recorram com suas pinceladas à imitação das tesselas. Um ótimo exemplo disso pode ser encontrado em pinturas de Signac, no jovem Delaunay, no Matisse de Joie de Vivre, e em Jeune Fille Au Chapeau Rose, 1907, de Jean Metzinger. Metzinger fez nessa obra questão de seguir à risca a técnica dos mosaicistas, aplicando suas largas pinceladas quadradas uma ao lado da outra, com regularidade, ao longo dos contornos.

Nina de Souza-Lima aplica suas pinceladas sem a limitação de um sistema. Seu guia — sua varinha mágica — é sua imaginação poderosa. Sua pincelada casa-se com o motivo, criando uma unidade estética original, destituída de qualquer suspeita de banalidade, e “imune aos constrangimentos da convenção”, para empregar as palavras de Franz Marc.

Ela também não se limita às marcas redondas, mas isso não impede que suas pinceladas constituam outras formas de ponto. Pois como escreveu Kandinsky:

Em sua forma real, o ponto pode adquirir um número infinito de aparências: à sua forma circular podem acrescentar-se pequenos recortes, pode tender a outras formas, geométricas ou mesmo livres. Pode ser pontudo e se aproximar do triângulo. Por uma tendência a uma relativa imobilidade, ele se faz quadrado.

E termina o parágrafo com o conceito lapidar: “Não podemos definir limites, o domínio dos pontos é ilimitado”.

Outro aspecto importante da obra de Nina de Souza-Lima consiste em sua temática. Ela se dedica à figura humana, com foco nas mulheres e nas crianças, em suas atividades lúdicas e de trabalho. Seu grande senso de composição, aliado à técnica refinada, dão à pintura de Nina de Souza-Lima um alcance humanístico profundo. Prova disso é que sua obra A Moça do Brinco Dourado foi selecionada e adquirida na 2ª Bienal do SESC/DF.

Bob Torbit
Artista Plástico e Escritor

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